Uma história exemplar
de trabalho colectivo

Cante alentejano<br>é património da humanidade

O cante alen­te­jano já é Pa­tri­mónio Cul­tural Ima­te­rial da Hu­ma­ni­dade. A dis­tinção foi apro­vada no dia 27 de No­vembro, em Paris, pelo Co­mité In­ter­go­ver­na­mental da UNESCO para a Sal­va­guarda do Pa­tri­mónio Cul­tural Ima­te­rial da Hu­ma­ni­dade. Este é o des­fecho feliz do tra­balho co­lec­tivo para o re­co­nhe­ci­mento do cante alen­te­jano.

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Apesar de terem exis­tido al­gumas in­ten­ções an­te­ri­ores de avançar com a can­di­da­tura do cante alen­te­jano a pa­tri­mónio mun­dial, só em 2011 o pro­cesso teve o seu efec­tivo ar­ranque. O mu­ni­cípio de Serpa fez o con­vite à Con­fraria do Cante e à ERT – Tu­rismo do Alen­tejo e, em con­junto com todas as ou­tras en­ti­dades e as­so­ci­a­ções que foram in­te­grando a or­ga­ni­zação, o pro­cesso de can­di­da­tura co­meçou a de­li­near-se.

Na al­tura deram-se passos im­por­tantes com o apoio de muitas en­ti­dades e in­di­vi­du­a­li­dades, de muitos mu­ni­cí­pios e grupos de cante, em si­mul­tâneo com um di­ver­si­fi­cado nú­mero de ini­ci­a­tivas, mas foi só no início de 2013 que o dos­sier de can­di­da­tura, já re­visto e me­lho­rado, foi en­tregue à Co­missão Na­ci­onal da UNESCO, para que o seu pre­si­dente o fi­zesse chegar a Paris.

É assim que, a 28 de Março de 2013, a can­di­da­tura do cante alen­te­jano a Pa­tri­mónio Cul­tural Ima­te­rial da Hu­ma­ni­dade deu for­mal­mente en­trada no co­mité in­ter­na­ci­onal da UNESCO, tendo como pro­mo­tores a Câ­mara Mu­ni­cipal de Serpa e a En­ti­dade Re­gi­onal de Tu­rismo do Alen­tejo, par­ceria cons­ti­tuída em 2011, e que foi apoiada am­pla­mente pelos de­ten­tores deste bem ima­te­rial, grupos e can­ta­dores. A esta in­tenção jun­taram-se di­versos sec­tores, que viram nesta acção uma po­ten­cial va­lo­ri­zação da iden­ti­dade re­gi­onal assim como um vetor de de­sen­vol­vi­mento e de sus­ten­ta­bi­li­dade.

Nesta fase final, con­si­de­raram os pro­mo­tores que a Casa do Cante de­veria chamar a si a fi­na­li­zação do pro­cesso de ins­trução e de­sen­volver todas as ac­ções que con­du­zissem à sua rá­pida apre­sen­tação, cons­truindo um amplo diá­logo não só com os grupos co­rais, le­gí­timos de­ten­tores deste pa­tri­mónio, mas também com todas as ins­ti­tui­ções di­recta e in­di­rec­ta­mente li­gadas a este bem pa­tri­mo­nial.

Em Abril de 2013 chegou a no­tícia da for­ma­li­zação do pro­cesso e da sua acei­tação pela UNESCO, sendo co­lo­cada na pla­ta­forma di­gital da UNESCO, o que sig­ni­ficou a uni­ver­sa­li­zação do cante alen­te­jano, dando-lhe uma vi­si­bi­li­dade mun­dial. A en­trega da in­for­mação com­ple­mentar en­tre­tanto pe­dida pela UNESCO foi feita em Fe­ve­reiro de 2014 e um mês de­pois chegou a con­fir­mação da sua acei­tação e a in­for­mação de que o dos­sier tinha sido en­tregue à co­missão que faria a sua ava­li­ação antes da reu­nião final. A 27 de Ou­tubro foi co­nhe­cido o pa­recer fa­vo­rável da co­missão in­ter­na­ci­onal de es­pe­ci­a­listas da UNESCO, tendo a can­di­da­tura do cante sido con­si­de­rada exem­plar, in­te­grando um grupo res­trito de cinco con­si­de­radas exem­plares, num total de 60 can­di­da­turas apro­vadas. E fi­nal­mente, a 27 de No­vembro, foi co­nhe­cida a de­cisão: o cante alen­te­jano foi ins­crito na lista re­pre­sen­ta­tiva do pa­tri­mónio cul­tural ima­te­rial da hu­ma­ni­dade da UNESCO, numa can­di­da­tura con­si­de­rada mo­delo para todas as ou­tras fu­turas can­di­da­turas.

Uma im­por­tância única

Chegar até este mo­mento, e com louvor, é algo que nos enche de or­gulho. So­bre­tudo pelo que sig­ni­fica para o cante alen­te­jano, para os alen­te­janos e para Por­tugal. O Cante – ex­pressão da vida, do tra­balho e da luta dos alen­te­janos – passou a ter um lugar de des­taque, uma vi­si­bi­li­dade que nunca teve. E o Alen­tejo, ter­ri­tório que sempre foi olhado com in­di­fe­rença por parte dos po­deres cen­trais, con­segue agora uma im­por­tância única, en­quanto es­paço com uma iden­ti­dade cul­tural forte, uma re­gião pa­tri­mo­ni­al­mente rica e onde é im­pres­cin­dível a re­a­li­zação de in­ves­ti­mento e po­lí­ticas de de­sen­vol­vi­mento re­gi­onal.

Ac­tu­al­mente existem cerca de 150 grupos co­rais no ac­tivo. Este total cor­res­ponde a todos os grupos exis­tentes no Alen­tejo, na zona de Lisboa e também nos países onde existe uma forte co­mu­ni­dade de alen­te­janos, como França, Suíça e Ca­nadá. Destes, cerca de 1/​3 são grupos fe­mi­ninos e re­fere-se a exis­tência de um nú­mero sig­ni­fi­ca­tivo de grupos mistos, so­bre­tudo na diás­pora. É im­por­tante re­ferir também os grupos in­fantis, já com al­guma di­mensão, re­sul­tado so­bre­tudo do pro­grama «Cante nas Es­colas», nos mu­ni­cí­pios onde existe. No úl­timo ano, é re­le­vante o apa­re­ci­mento de grupos for­mados por in­tér­pretes mais novos, so­bre­tudo nos con­ce­lhos de Beja e de Serpa.

Uma pa­lavra final sobre a Casa do Cante. Está si­tuada na Rua dos Ca­valos, em pleno Centro His­tó­rico da Ci­dade de Serpa, num edi­fício to­tal­mente re­cu­pe­rado pelo mu­ni­cípio de Serpa. Este pro­jeto é parte in­te­grante da es­tra­tégia do mu­ni­cípio através da qual se pro­cura pro­mover um de­sen­vol­vi­mento sus­ten­tado a partir da mú­sica e da cul­tura, pri­vi­le­gi­ando a di­na­mi­zação eco­nó­mica com base na cri­a­ti­vi­dade e ino­vação. Desta forma, a Casa do Cante cons­titui um forte con­tri­buto para a pros­se­cução desse ob­jec­tivo, en­quanto es­paço vo­ca­ci­o­nado para a sal­va­guarda do pa­tri­mónio cul­tural ima­te­rial do Sul de Por­tugal, do cante alen­te­jano e da po­li­fonia tra­di­ci­onal. Foi a pro­mo­tora da can­di­da­tura do cante alen­te­jano a Pa­tri­mónio Cul­tural Ima­te­rial da Hu­ma­ni­dade da Unesco, sendo a es­sen­cial pla­ta­forma para a exe­cução do plano de sal­va­guarda.




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